A Candeia, o alfa-bisabolol e a sustentabilidade

Cada vez mais usado na indústria da beleza, o alfa-bisabolol é um princípio ativo retirado da árvore Candeia, nativa da Mata Atlântica brasileira. Antiinflamatório, antisséptico, bactericida, cicatrizante e possuidor de outras tantas propriedades, o alfa-bisabolol virou um dos coringas da indústria de cosméticos. O problema é que a exploração desenfreada pode prejudicar a sustentabilidade e colocar em risco a Candeia. O alfa-bisabolol é um álcool insaturado obtido da destilação direta do óleo dessa árvore.

Apenas uma empresa brasileira, a Atina, tem certificação ambiental em todas as etapas da cadeia produtiva, sendo garantida pelo Ecocert, um certificado aplicado a 3.200 produtores ligados ao extrativismo no Brasil e a mais de 8 mil no mundo. Ele garante a origem e a qualidade do produto natural. Além disso, confirma que a empresa está cumprindo a legislação, a qual, no caso da Candeia, é específica.

A extração do óleo da Candeia é altamente lucrativa, mas não existem modelos viáveis, ainda, de manejo sustentável desse recurso. Árvore típica do Sudeste do país, principalmente em Minas  Gerais, a Candeia é altamente resistente, sendo utilizada, inclusive, para fazer mourões de cerca. Um mourão feito de Candeia pode durar até 30 anos sem apodrecer ou se degradar.

É justamente uma substância produzida pela própria árvore o segredo para essa resistência e, também, para as propriedades fantásticas de seu óleo, tão disputado pela indústria. Por isso mesmo é usado em escala mundial, embora seu monopólio seja brasileiro, uma vez que a árvore é natural apenas de nosso país.

O que deixa mais evidente a importância de se controlar a exploração da Candeia. No começo dos anos 2000, houve a denúncia por parte da imprensa da chamada “máfia da Candeia”, que já naquela época realizava o corte totalmente indiscriminado da árvore dentro dos parques estaduais de Minas Gerais.

Como a viabilidade econômica da extração da Candeia só é possível em Minas, seria preciso que a regulamentação no manejo e a expedição de licenças de exploração fossem também locais, o que ainda não acontece de maneira organizada.

Aplicado desde o combate à manchas na pele até o controle da acne, o alfa-bisabolol pode estar presente em cremes, pomadas, pasta de dente, lenços umedecidos e demaquilantes, além de outros produtos similares de limpeza de pele ou cosméticos. Ou seja, ninguém nega a sua importância estratégica para a indústria da beleza. 

O problema é que, em nome de produtos mais eficientes, não se pode degradar a natureza, especialmente a nossa já tão afetada Mata Atlântica. É preciso que haja mais fiscalização e conscientização para que possamos evoluir sem destruir.